Outubro

 Outubro


O fogo aviva a morte
Queima, recita em piano
O tempo decrescente 
Nas mãos que, outrora,
Uníssono em oração

Trêmulo, pálido,
Cálido e gélido
O cálice acompanha
Companhia pérfida - pútrida -,
Sorvida em servidão ébria

Num sopro inverso, infla
Age e esvai...
Os dias contam em negativo
E o gris do porto
Nunca é suficiente...

Áridos olhos, vazios
Não há gota sequer...
Rezam a deus que não sejam ateus
Deus, rezo que não sejam os teus
Os caminhos que passo ao reverso

Aceito a escolha, 
Que foi minha, e minha só
Matéria prima, pó
Poeira ainda sou
Não estou, sempre fui

A luz consciente
Turvou-se em nevoeiro
O singelo veleiro
Cessou a viagem
Recebeu a vertigem
Tão esperada, merecida

Os dez não mais cantam, 
Lamúriam, desconexos...
Os sentidos perdem-se, frios...
Por trinta... onde estive?
Janelas abertas, casa fechada...

Rasgam-se outros vinte
O Anfitrião a recebe
Abraços, o peito aperta
Espreita, alegre, 
A tristeza alheia...

Ou não?
Quem vem? Quem dirá palavra?
Meu anseio é não viajar
Como eu quis! Quando e onde...

Só, não estou, sempre fui.

É indiferente.

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