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Fuga

"Então ele imitou o fogo, amigo, até queimar-se a si mesmo." Fuga Dos pássaros, imitei o vôo  E fingi cantar livre, floreado Longe das regras e teorias das páginas  Imitei os livros e fingi fábulas. Imitei terra E tornei vida as sementes dos frutos Que caíam de árvores faz-de-conta Imitei as flores e fingi dançar com o vento. Imitei a noite e o silêncio  Guardei segredos  De vozes sussurrantes fingindo amar Imitei o amor e doí. Imitei o fogo até fingir que me queimava Imitei a mim mesmo até fingir que vivia Por fim, imitei a morte e fingi que a entendia. Finjo ser lembrança, imitando memórias  Na memória de quem finge não esquecer de mim.

Quatro Árvores

Quatro Árvores  És Pássaro Eu Céu Encontra tuas Flores Eu Campo Encontra tuas Árvores Eu Raiz Busca tua Água Eu Fonte Busca teu Alimento Eu Terra Bate tuas Asas  Eu Liberdade.

Purificação

 Purificação Ruas, versos, pedras Universos, fins e meios Anseios, portas de saída Tantas esquinas, estopins Hoje somos avenida À luz de vias inquietas Estradas, caminhos e passagens Apoio, receios e medos Viagens, voltas e idas E hoje somos avenida O som, a voz, nós A palavra muda, pausa A casa, o sonho, ferida Os quadros, os traços, causa Por sermos avenida Um dia, um brilho, manhã Abraço, filho, cuidado Mesmo olhar, dor vencida Mesmo rumo, outras vidas E seguiremos avenidas

Sentença

 Sentença Ignora minhas palavras Despreza meu devir     (desfaz) Destrói, afoga, apaga, Assola minhas orações Excomunga minha alma Manda ao inferno meus sonhos     (sacrifica) Satisfaz, derrama, despeja,  Deseja que nunca os tivesse Apressa minha queda Apronta meu sepulcro     (condena) Envenena, vela, enterra,  Encerra teu martírio E brilha, solstício Finda a primavera de paz     (Porto, além) Fica bem, E mata-me um pouco mais.

Fermata

 Fermata Dias cheios, quietude Calmaria antagônica Agonia crescente, foi Sem voz nem luz Paira, descansa Viaja depressa Represa teu silêncio - resguarda - Cacofônico, noturno Longínquo vislumbre... Demasia de vazios Planícies desgastadas Desbotado, desconexo Sono dúbio, ora um e outro Aguardo pífio

Gênese

 Gênese Teus olhos, enxergue nos meus Entregues, enxuga a lágrima Lembranças de mesa farta Nunca foste longe... Hora e meia, abraço... Apreço, por quem sou Da raiz ao barco Germe do Veleiro Quando crescer, quero Ser e ser, só Sábio, firme, amigo Mestre, mastro Içar velas! O Porto se vai Perto, n'outro mar de céu Em sonho, diz Que há de passar  A Origem, O Pilar A familiar Gênese Onírico, em branco e riso Tez calma, paz Feliz sofrer Por quem segue... Confia, assim,  Que na infinitude ínfima De constelações oceânicas Engrandeces teu espírito No cosmo cartográfico Um soneto, sou neto,  Pérola de outras águas Tu, fonte... Enseada de quantos Maré de muitos Pouso de poucos Terra... Terno... Tantos... Todos...

Intermezzo

Intermezzo Porto que é além Santo destrói, também Culpa que sinto, amém Sempre me erra Olho e não vejo a quem Cor que não vive sem Eu, só algum ninguém Além da espera Perto de algum além Sinto e senti, amém Sonho e sol também Nunca se erra Sombra e a luz, de quem? Sob esse véu, ninguém Sei que não sente, sem Espero a espera...